domingo, 2 de outubro de 2011

Artigo de Opinião

O QUE ESTÁ POR TRÁS DO ENEM
Por VALDIR LANZA – presidente da União Brasileira Educacional (UNIBR) e mestre em administração educacional pela Winsconsin Internacional University

Em 1950, o Brasil possuía apenas 3% de seus jovens cursando o ensino médio. Neste ano, o ENEM foi aplicado para 3,2 milhões de estudantes -  e daí vem a idéia de um país grandioso que promove um processo rigoroso de ascensão social que passa, necessariamente, pela educação.
Na prática, no entretanto, o Enem revela uma nação sem política de Estado para o setor, com uma carreira docente banalizada ao longo do tempo envolvida em greves, invasões de reitorias e violência; uma escola pública falida e o MEC onipresente legisla, mantém, faz a gestão e regula todo o sistema.
Vamos aos números: apenas 6% dos colégios nacionais obtiveram avaliação semelhante às escolas OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) dos países desenvolvidos. Os brasileiros têm muita dificuldade em matemática e em interpretação de textos.
Temos um déficit de 40 mil professores, especialmente em matemática, física e química. Muitos professores entram na sala de aula sem método de avaliação e linha de aprendizagem, Além disso, não definem com clareza a importância do conteúdo selecionado. Apesar da defesa de cada conteúdo ser justificada, cometemos o erro de agregar aos conteúdos tradicionais temáticas ligadas ao corporativismo, às políticas afirmativas e de regionalismo, que incham o curso e são de pouca eficácia para formação básica. Em matemática, por exemplo, nosso conteúdo é dez vezes maior do que nos países desenvolvidos. A própria mecânica que se apropriou do Enem, como vestibular para mais de 600 instituições de ensino, estimula conteúdos excessivos em detrimento de um aprendizado objetivo e eficaz. Em contrapartida, o tempo de aula no Brasil é muito curto. Em 18 escolas públicas, acompanhadas durante o tempo líquido de sala de aula, não passa de pouco mais de duas horas, contra mais de seis horas diária nos países da OCDE.
As questões relacionadas à melhoria do nível educacional no Brasil são bem complexas, mas algumas medidas simples já ajudariam bastante, tais como;
a) currículos menores com foco nas disciplinas essenciais e possibilidade de disciplinas optativas;
b) incentivo às atividades práticas e de campo com simulações que trazem uma aula mais agradável. O aluno aprende fazendo;
c) rigor disciplinar para que a escola seja um local comunitário, de convivência amistosa em que o zelo pela instituição é um papel de todos;
d) avaliações baseadas em competência e habilidades trabalhando o uso de raciocínio lógico e capacidade de tomar decisões;
e) equalização do peso das disciplinas objetivas em relação da redação. A redação do Enem vale cinco vezes mais.
De qualquer maneira, o Enem contribui muito para uma visão mais crítica e pragmática de onde precisamos melhorar. De forma acanhada, temos melhorado em praticamente todos os índices educacionais, desde o início deste século.  O que não podemos aceitar é sermos eternamente exportadores de matéria-prima. Precisamos de educação de qualidade para produzirmos novos Lemanns, Seabras e Eikes e sermos reconhecidos pelas nossas Ambevs, Naturas e EBXs.
Artigo extraído do Jornal A Tribuna de 02 de Outubro de 2011.

Um comentário:

  1. “QUEM ELEGEU A BUSCA NÃO PODE SE NEGAR A TRAVESSIA”

    Guimarães Rosa

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